quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Desumanos













Ser… humano…

O que é?


É ser dotado de razão e consciência…

Mas aos olhos de quem?


É sentir que, apesar de diferentes,

somos todos iguais,

sejamos pretos, brancos, vermelhos
ou de qualquer outra cor?

Sejamos cristão, muçulmanos ou simplesmente ateus?

Sejamos homens ou mulheres,

crianças, adultos ou idosos?


O ser humano…

É assim?


É ter direito à vida,

e à segurança pessoal?


Ser livre de pensamento e acção?

É ter acesso ao ensino e à saúde?

Trabalhar e receber um salário,

perder o emprego e poder usufruir de um subsídio?


Que ser é este?

Que garante a paz e a justiça

e proíbe os maus-tratos,

e agressões desumanas?

Desumanas!!!


Que seres iluminados

conseguiram erguer uma declaração de direitos

tão perfeita em teoria

mas de tão difícil aplicação prática?


Queremos ser o que não somos?

Porque afinal vemos as diferenças

e à lupa…

ampliamos,

deformamos,

manipulamos…


Corrompemos a naturalidade do diverso

para a transformar num crivo afiado e mordaz!


É assim o ser desumano?

Capaz de castrar liberdades

em benefício próprio?


Um ser egoísta

que só pensa nos bolsos recheados

e é incapaz de atender um pedido de ajuda?

Que permite a injustiça,

promove a violência,

as desigualdades

e a ignorância?


Ser… desumano

É o que nós somos!


Nota: os direitos expressos no poema foram retirados da Declaração Universal dos Direitos Humanos


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Cavalo à solta



"Cavalo à Solta" de Ary dos Santos, interpretado por Viviane - álbum "Rua da Saudade" em homenagem ao "poeta/ que se origina a si mesmo/ que numa sílaba é seta/ noutro pasmo ou cataclismo".

2009 celebra o 25º aniversário da morte de um poeta que continua vivo através das suas cantigas.


A músca e a letra são magníficas...

Minha laranja amarga e doce
Meu poema feito de gomos de saudade
Minha pena pesada e leve
Secreta e pura
Minha passagem para o breve
Breve instante da loucura
Minha ousadia, meu galope, minha rédia,
Meu potro doido, minha chama,
Minha réstia de luz intensa, de voz aberta
Minha denúncia do que pensa
Do que sente a gente certa
Em ti respiro, em ti eu provo
Por ti consigo esta força que de novo
Em ti persigo, em ti percorro
Cavalo à solta pela margem do teu corpo
Minha alegria, minha amargura,
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha laranja amarga e doce
Minha espada, meu poema feito de dois gumes
Tudo ou nada
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sussego
À desfilada no meu peito
Por isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo
Por isso canto, por isso digo
Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo
Minha alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha ousadia, minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura


Letra: José Carlos Ary dos Santos

Música: Fernando Tordo


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A pele arde
















Fotografia: "Almas a Nu" por Marta Ferreira

A minha pele arde
na tua boca de água doce…
Mordo-te os lábios,
chupo-te a língua quente
enquanto vertes um cálice de saliva
sobre o meu ventre líquido…
… que se contrai e distende…
… como o movimento das ondas…
… ganham fôlego no cume do azul salgado…
…. e depois rebentam na areia…
…. abrindo-se num leque de espuma branca…


Provas-lhe o sal da vida,
que descobres entre duas conchas semi-abertas
e o açúcar das frutas maduras
prontas a ser colhidas!

As nossas mãos entrelaçam-se,
enquanto dançamos sob a carícia prateada da Lua!

Derreto-me no teu sémen
e prendo-te dentro do meu sexo!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Qual é a nossa estação


Stuart A. Staples e Lhasa Sela - That Leaving Feeling


O fim da banda Tindersticks não acabou com a carreira do vocalista Stuart A. Staples. Em 2005, decidiu editar o primeiro álbum a solo, “Lucky Dog Recordings 03-04” e logo a seguir "Leaving Songs".

sábado, 21 de novembro de 2009

Tela

Os ramos densos e rugosos

trituram o bronzeado da pele…

Amarelo

torrado do sol poente,

Laranja

como o suco fresco

que sorvo dos teus lábios

rubros

e o Castanho

quente de um café a fumegar na chávena...


Desenho círculos incompletos,

na bruma macia do anoitecer,

e voo com os pirilampos mágicos

e as borboletas nocturnas.


Mergulho na tela em branco

e pinto-me com todas as cores…

cabelo Azul

lábios Rosa

mãos Verde

e pernas Violeta!


Sou arco-íris invisível,

penetro na escuridão mais cerrada,

arrancando-te da tela vazia

e trazendo-te para o mundo colorido do Sonho!



quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A menina dos fósforos




A menina dos fósforos junta-se agora ao menino do tambor! Um conto mágico escrito por Sigur Rós para a Companhia Real de Bailado da Dinamarca.

Esta exemplar recriação do conto de Natal de Hans Christian Andersen transporta-nos para um mundo despido de luz e amor que a menina dos fósforos vai salvar com a chama que emana do seu coração.

Eu sou a tua menina dos fósforos... aqueço-te nas noites mais frias de Inverno, transformando cada floco de neve numa estrela cadente!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O menino do tambor



Autêntico conto de fadas ao estilo de Sigur Rós! O menino do tambor bem podia ser o peter pan da Islândia.

Eu sou a tua Wendy... sigo-te a música, corro atrás de ti e lanço-me no abismo, sem receios, porque a imaginação e o amor abrem-se lado a lado como duas asas de cegonha...

domingo, 8 de novembro de 2009

Vento















Fonte da imagem: Madame Maga

Vento das serras geladas,
pintadas de branco agreste,
ferves-me no útero de cereja
e provas-lhe o sabor agridoce
com o teu sopro quente de Leste.

Elevas-te na noite fria,
penteando-me os cabelos de luz
que pendem sobre a cidade adormecida
e enfeitas-me com estrelas multicores
e pedaços de nuvens violetas.

Danço sobre os cristais de sal
que me tocam as pontas dos pés
sempre que o mar beija a areia.
E acompanhas-me no teu voo tranquilo,
respirando-me os mamilos ofegantes
e bebendo-me o ventre húmido.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Melodias que nos tocam



"Hoppipolla", dos islandeses Sigur Rós, eleita melhor canção da década por José de Pina da Rádio Radar.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

As últimas chuvas


Fonte da foto: Suspiros e Devaneios...


As cores do fogo
lambem-me a seiva do tronco,
crepitam-me nas folhas estaladiças
que brincam às escondidas
com os meus pés disfarçados de botas!

Acelero o passo vagaroso e sombrio,
com o vento húmido do Outono
deslizando-me pelos cabelos despenteados
e acariciando-me o rosto cansado!

Os estalidos são agora mais frequentes,
no manto colorido de vermelho, castanho e laranja!
As texturas macias do verde
são silêncios na pauta desafinada
e um voo infrutífero das notas mais ousadas!

Suspensa na névoa do entardecer,
a batuta aponta para o mar revolto,
emudecendo a espuma branca
que borbulha no cimo das ondas douradas!

Gaivotas famintas
lançam-se neste espelho azul salgado,
torrado pelos violetas do crepúsculo…

Abrando o passo ofegante,

com um rasto de pegadas vazias,

bebo as últimas chuvas do dia

e estendo-me…

sobre um lençol de luz prateada…

Teardrop

sábado, 31 de outubro de 2009

Olhos salgados


Quando o mar me entra pelos olhos,
salpicos salgados cortam-me as veias,
descobrem-me as serpentes de água doce
que rodopiam assustadas neste oceano vazio!

São quimeras, sonhos defeitos
neste corpo ainda vivo,
mas de alma apodrecida…

Vagueio perdida no chão áspero do entardecer…
Golpes roxos ferem o céu quente
e desaguam no espelho em turbulência
que jaz a seus pés!

Algas viscosas de penugem macia
prendem-me os pulsos gelados…

E continuo esta caminhada dura…
… Descalça…
Com o vento do Norte
arrepiando-me a espinha nua
e o Sol flamejante,
cegando-me o destino
que se desdobra em frente
como as páginas de um livro em branco!



"Stay Golden" - Au Revoir Simone

domingo, 25 de outubro de 2009

Strawberry Swing

"The sky could be blue, could be gray without you I just slide away
The sky could be blue, I don't mind, without you it's a waste of time."

Strawberry Swing - Coldplay do álbum Viva la Vida

sábado, 24 de outubro de 2009

Eet



...It was so easy and the words so sweet.
You can't remember; you try to move your feet...

"Eet", tema do mais recente álbum - Far - de Regina Spektor.


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ciclo ridículo


Círculo, ciclo ridículo…

Sigo o circo de vidro,

espelho de silício introvertido,

embebido em cortinas líquidas de filtro!


Viro-me,

viro-te em mim

e em ti saltito

com um fino vestido de lírios

despido na íris da tua libido!




"Her morning elegance" do 1º álbum (The opposite side of the sea) de Oren Lavie

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Janela de vidro

A manhã acordou sem orvalho,

sem o chilrear dos pássaros cantores…

As primeiras cores do dia desmaiaram

sobre os finos lençóis de luz violeta

que me cobrem o corpo pálido.


Olho o aguaceiro agoniado,

arranhando as faces de vidro

do meu rosto reflectido na janela…


… respiro-te o dióxido de carbono fantasma

e aconchego-me nessa ausência gelada…


Um uivo triste esvoaça perdido

por entre os ramos despidos da floresta

e refugia-se nos escombros deste edifício,

outrora um palácio de rosas e madressilvas.


Bates à janela e deixo-te entrar!

Mergulho nas tuas asas macias,

de penas brancas,

e voamos ao encontro do orvalho da manhã!




domingo, 18 de outubro de 2009

Gota de luz


















Fina gota de luz,
adormecida nas linhas
deste diário vazio
que respira pele, suor e alma…

Nele, escreves as tuas sombras…
ruídos ásperos
que arranham o ouvido
e secam a boca pálida!

Membrana transparente
de cristais coloridos
deslizas pelos filamentos nervosos
que te cobrem o rosto de vidro
e desenhas um rio de água doce
poluído de sangue e lágrimas!

Tinjo-me de aparências vãs,
óculos de lentes difusas, bifocais,
chapéus de abas curtas ou largas
e escondo-me neste sobretudo
que me inunda o corpo de azul e sal.

domingo, 11 de outubro de 2009

Candelabro















A rua adormeceu no asfalto frio

sob a luz trémula de um candelabro antigo

pendurado no orvalho da manhã.


Os fantasmas fogem dos primeiros grãos de calor,

que saltitam de flor em flor nas asas de uma borboleta,

recolhem-se no seu submundo

de pântanos e nevoeiros cerrados,

enquanto as sombras levantam-se para um novo dia

polvilhado de nuvens e fios dourados.


As luzes do candelabro desmaiam,

dos seus braços enferrujados

pendem as folhas estaladiças do Outono

e as rugas de um edifício abandonado.


A terra molhada gela-me a nuca e as costas…

enrolada numa asfixia de trepadeiras,

olho o crepúsculo violeta e adormeço com a Lua!