quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Aguarelas

Aguarelas salgadas escorrem-me das pálpebras cansadas,
tingem-me o rosto de lágrimas prateadas, translúcidas,
cicatrizando as feridas deixadas pelo pincel de ponta larga e abrasiva
que me desenhava lábios cerrados e testas franzidas...

Procuro a tela despida, branca, vazia,
onde posso renascer com novas formas e cores,
onde me diluo nesse fluxo inicial que se esconde em cada poro,
e se esvai nos filamentos nervosos da carne em que tocas...

Abro os lábios para te receber lentamente,
saboreando-te os aromas que se erguem à lingua do meu ventre...
Envolvo-te na minha saliva transparente e aveludada,
enquanto danço e contraio repetitivamente,
em movimentos contínuos e vorazes que ardem em suor e sémen...
prendo-te mais ainda quando a minha fonte quente te acaricia a pele nua,
liberto-te por instantes para voltar a sorver esse suco,
néctar afrodisíaco de canela e gengibre 
com perfume a mar, sabor a terra e cor do fogo...
... aguarelas...