sábado, 2 de novembro de 2013

Viúva negra
















Não quero mais ser a paleta vazia de cor, pálida,
nem um mero expositor de tintas em carne viva
à mercê dos tentáculos de um pincel vadio e moribundo,
autor das telas que me pintam os olhos de lágrimas...

Não quero mais ser o projetor de luz de um palco de sombras,
sem pele, suor, vozes e saliva,
pedaço de chão negro abandonado,
coberto com uma fina camada de pó cinza
e com um círculo luminoso ao centro apontado.

Não quero mais ser reclusa da minha teia,
mas antes deslizar nessa rede como uma viúva negra,
desfiando lençóis de água sobre o teu leito queimado pelo sol,
refrescando esse ardor que te consome em lume brando...

Inspiro os ventos glaciares e chamo a neblina das madrugadas
para dar à luz pétalas de gelo,
polidas pela erosão do granizo de Inverno, 
filamentos cristalinos que te estancam essa lava,
transformando-a no rio que me corre nas veias...