quinta-feira, 26 de julho de 2012

Incendiários















Tudo o que resta são cinzas
que serpenteiam nas encostas das montanhas,
outrora verdejantes e abrigo de lobos e raposas...
Copas e ramos que escondiam ninhos de cucos e perdizes
são apenas fotografias do que o fogo já consumiu,
memórias esmagadas pelo horizonte queimado
e a cortina de fumo que nos enclausura
numa terra sem estrelas e lua.

Aqui as fontes secaram,
mas as lágrimas vão escorrendo lentamente lá em cima,
pelas encostas cada vez menos geladas da Gronelândia,
empurrando o mar que vai engolindo o cimento do litoral,
tomando de assalto o espaço roubado à Vida Natural!

Parecemos suicidas,
porque insistimos em destruir a nossa casa...
Ou seremos loucos masoquistas
que se regozijam com o sofrimento da incerteza?


sábado, 14 de julho de 2012

Menino pobre



 


Sigo-te menino errante de cara escura...
A noite lava-te a alma com as estrelas e a lua,
expurga-te da fome e do frio,
enquanto te aconchega debaixo do seu manto
feito de sonhos entrelaçados em fitas de arco-íris!
 
O dia estala-te no rosto magro e anémico
mas nem o sol intenso de Verão devolve o bronzeado de outrora,
quando corrias de pé descalço à beira-mar,
saltando a espuma das ondas e pontapeando a água salgada...
Tinhas o mundo pela frente e a esperança dava-te asas:
parecias uma ave de rapina, astuta e determinada!
Mas roubaram-te esse dom que te guiava
quando caiste na armadilha da idade adulta
e percebeste que afinal não somos todos iguais...
 
Nasceste pobre e serás sempre pobre!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Marcha


Sinto-te nua e despida
mancha amorfa que se dilata nas praças extensas,
arrastando os gritos, choros, lamentos e sonhos
de um arquétipo que afinal pode existir... basta crer!
Mas está longe destas mãos de ninguém
que agora empunham estacas de madeira
para elevar bem alta a voz que se contém cá dentro
diante dos líderes que se recolhem no mais vazio trono...

A estrada é larga e profunda,
o alcatrão confunde-se com a terra e a água...
Há espaço para mais indignados que não se curvam perante o medo
e que encaram de frente o vento que os empurra para trás
e as montanhas que nascem em frente como barreiras intransponíveis...

Depois desta jornada virá o sol e a nascente de água doce,
mas é preciso continuar a marcha!