sábado, 22 de outubro de 2011

Toca-me


Quando a terra deixar de germinar
e o vento abandonar as estepes frias,
os lobos sairão das tocas quentes
e os morcegos verão a lucidez na escuridão,
manta de pó e cinza
que se abateu sobre a matéria viva,
inferno de seiva, carne e saliva...

Um uivo ensurdecedor dilata-me as veias rubras,
percorre-me o plexo febril e sufoca-me a garganta...
Incendeio esta folha de papel e tinta,
porque as palavras, suaves ou mais duras,
não passam de vocábulos inativos,
mas providos da desejo e vontade.
São roupas com que nos protegemos ou atacamos...
Mas é na pele que se sente a verdade!
Toca-me! 


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Amor cósmico


Quando o mi e o lá
se encontram numa pauta translúcida
de veios líquidos como fios de água,
a terra e o mar silenciam-se...
Trazem jasmim, anémonas, pirilampos...
sentam-se na linha do horizonte,
baloiçando-se entre a vertigem de dois mundos:
no meu chão crescem árvores de fruto e searas de trigo,
no teu há cardumes e famílias de golfinhos!
Mas nada sou sem ti...

Contornas-me o corpo, sacias-me,
fecundas-me o útero e eu dou-te a vida...
O azul tinge-se de violeta,
desenha a sillhueta de uma lua ainda transparente...
do cimo da mais alta montanha estremece
o vento gelado do Norte,
salta em queda livre sobre o vale da Primavera
e apaixona-se pela brisa quente do Sul...
Dançam em remoinho: ela rindo, ele rugindo!