quarta-feira, 20 de abril de 2011

Fujo... de quê?

Calco a terra batida que a chuva vai molhando.
Escorrem-me as cores da vida inexistente
como o arco-íris que rasga o céu cinzento,
num êxtase arrepiante e fugaz,
como este sorriso que me atiras no ar…
Tento bebê-lo, provar-lhe o veludo e o calor
da pele quente, nua,
brilhante, húmida.

Caminho descalça, livre…
lama, água fria, vento
e o cabelo esvoaça rebelde em fúria!
Estendo os braços e crescem-me penas largas,
acelero, marcas o compasso…

Fujo… de quê? Para onde?
A que mundo pertenço?
Não me sinto quem sou,
não possuo o que tenho.
Mas para quê ser dono
do que nunca será teu mas de todos?

A luz dissipa-se em farrapos violeta,
nesse manto que me limita o olhar,
feito de manchas azuis que vão escurecendo…

Respiro fundo…
A maresia devolve-me a alma
em espuma branca,
num embalo doce e sereno…

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Pesam-me os dias
















Pesam-me os dias
como nuvens carregadas de chuva
ou bacias de roupa suja,
que lavo na água do rio
com o esfregão contra o granito…

Pesam-me as horas
sob um sol asfixiante e seco
que me queima o rosto e os braços finos…

E os minutos marcam o passo contínuo,
irritantemente minúsculo,
como o zumbido de um mosquito
que desenha circuitos no espaço vazio…

Pesam-me os olhos negros,
pregados na dobra da minha saia de flores
e de folhos coloridos
que o vento adora beijar.
Quando sopra mais atrevido,
levanta um aroma doce de rosas e rosmaninho.

A noite liberta-me!
Puxa-me para junto das estrelas,
para o teu regaço,
é onde quero ficar até adormecer…

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Agora sou terra


















E quando acordei já não era vento...
O meu véu transparente ganhou um corpo quente,
subi a tua encosta íngreme
para me espraiar no horizonte
respirei fundo e os aromas salgado do mar
pintaram-me duas lágrimas no rosto!

Quero voar, mas agora sou terra
com bosques e florestas para alimentar,
crescem-me raízes neste continente triste
feito de carne e sangue e ossos e pele.

Perdi a intangênca de apenas ser,
agora existo dentro dos limites da vida,
mas a minha alma guarda a brisa da inocência...
basta abrir a pequena caixa secreta
para abraçar o azul intenso que guardo no olhar!