domingo, 23 de novembro de 2014

Planta de água
















Cada fio do teu ventre líquido
desliza-me na pele nua
como um manto de seda azul.
Provo-te o sabor agridoce
que se desfaz na minha boca,
hidratando-me as vísceras secas, ásperas…

Corro em direção a ti,
ao encontro da profundidade oceânica
que me prometeste um dia,
quando adormecia ao pôr-do-sol
e avistei uma estrela cadente,
tão brilhante que tomou o lugar do astro-rei
para me plantar esta semente
que viria a germinar numa planta de água…
Não é salgada como o mar,
mas doce como um pequeno rio enroscado nas montanhas…

Como poderás viver numa terra árida,
tu que te alimentas de água pura e cristalina?
As tuas raízes irão murchar e encolher,
serão embalsamadas neste deserto de catos
que trago plantado no peito.

sábado, 22 de novembro de 2014

Laranja

Cada gomo uma acidez diferente…
cores forte que se misturam na saliva quente,
deslizando entre a língua e os dentes,
liquefazem-se num veludo licoroso e cítrico,
despertando-me o corpo dormente…
…….Despido de luz!
Como num arrepio que sobe pelo dorso nu,
percorres-me o pescoço arqueado e os seios hirtos
enquanto te dissolves em cada um dos meus lábios…


domingo, 28 de setembro de 2014

Anoitece

Veludo negro desce sobre o meu dorso frágil,
são penas de corvo que se soltaram da tempestade sombria
e golpeiam-me a pele nua e pálida...
O mar foge da areia líquida e espumosa,
é sugado pelos ventos quentes do sul,
secando as guelras de quem dele se alimentava...
A aurora demora-se no prateado cósmico da lua,
hipnotizada pelo brilho de perfume salgado
que vagueia pelas marés perdidas da noite.

Sucumbo entre as dunas e o rugido do mar,
enquanto me aconchego nesse manto estrelado
que me acaricia os olhos cansados...

sábado, 20 de setembro de 2014

Lua

Abandono-me no teu leito sedoso,
entregue ao teu toque e ao teu perfume de almíscar
para te sorver o néctar que brota dos teus poros,
para me provares a seiva quente
que me palpita o ventre húmido.

Sou feita de mar e céu
prenhe de água doce e salgada,
para te purificar o corpo em chamas,
banhar-te num manto macio
de volúpia e prazer,
enquanto arquejo no teu colo ereto,
cavalgando sobre os teus ramos,
carregados de suculentas frutas.

Destilas rum sobre a rigidez dos mamilos colados a ti,
enquanto me penetras com suavidade
na concha firme e flexível
como uma boca de seda humedecida,
sedenta dos nutriente
que te correm na guelra.

Como uma abelha viciada em pólen
procuro-te entre o jardim de girassóis e madressilvas
mas não te encontro rosmaninho,
esse aroma fresco e pungente
com que me beijas a vulva em fogo
e os lábio em licor de amora.

Vem-te em espuma
como as ondas que lambem a areia prateada...
Rasga o firmamento
como uma estrela cadente
e transforma-te no planeta de água
que preciso de orbitar para de novo ser Lua.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Terra queimada















Palmilho este caminho de pedras quentes,
escaldando-me as plantas dos pés nus
como uma penitência, uma cura
por todos os incêndios que ateei à floresta da vida.

Em carne viva, percorro-te o corpo
de silvas e ervas daninhas
em busca da fonte de água fresca
que me há-de aliviar esta dor.

Mas a queimadura ficará para sempre,
em forma de cicatriz mais escura
como uma tatuagem da minha história,
um sinal que não se apaga, que permanece…

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Firmamento













Quero engolir cada pedaço de céu
que o meu olhar avista,
saborear essa candura de algodão doce
que polvilha a pele da cor do mar…

Deslizar o dedo em cada andorinha
que te rasga o ventre liso e macio
abrindo-te uma fenda escura,
onde se abrigam morcegos e corujas,
sedentos do infinito que prometes dar,
ávidos dessa eternidade longínqua
que escondes debaixo do manto azul…

Quando cai a noite, vestes-te de negro,
mas trazes o brilho das estrelas
enquanto a maior delas todas se deita
para dar as boas-vindas à deusa de capa prateada.
Ela surge logo depois de te dissolveres
em amarelo-torrado, laranja e lilás no horizonte,
dança em quarto crescente até ser lua cheia!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Aranha do mar














Em lânguidas ondas prateadas de espuma
beijas-me o corpo nu deitado na areia húmida,
sob um manto de estrelas sedentas de luz…

Saboreio-te esse licor salgado
enquanto me sulcas o ventre
em jatos de água fresca e transparente.
Prendo-te entre as coxas nuas
mas o teu corpo liquefaz-se no meu
penetrando-me os poros da pele.

Evaporas-te e ganhas a forma de uma nuvem,
sobrevoas-me o plexo revolto,
observando cada movimento ondulante,
tecendo uma teia lasciva e sedutora.

É quando uma brisa mais fresca
te materializa em chuva sobre o meu corpo:
gotas de néctar adocicado
alimentam-me os seios hirtos e ofegantes,
escorres-me pela curva da anca…
Envolvo-te na minha teia dourada,
deixas-te prender inebriado de prazer
e a seguir degolo-te vorazmente…

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Pequenina outra vez!















Estendo os braços pálidos
no vento frio que cobre a noite…
Deslizo entre nenúfares transparentes
para o teu leito de estrelas e luar
e baloiço no teu colo enquanto me acaricias a tez dourada…

Finalmente consigo libertar-me deste vestido pesado
que se arrasta no chão como um arado…
E levito entre sonhos de mar e alecrim,
entre a frescura salgada da rebentação marinha
e o perfume adocicado do rosmaninho numa clareira ao entardecer…

Quero ser pequenina outra vez!



quarta-feira, 7 de maio de 2014

Poesia















Fujo da palavra escrita,
que materializa esta dor intangível
em sombras negras e obscuras,
que uivam asperamente no meu ouvido…
Fujo desta folha imaculadamente branca,
com receio de a tingir com os meus fantasmas
e os demónios que se apoderaram do meu corpo!

Fujo….
….mas sinto falta de ti…
de te ler… de te recitar…
Procuro-te uma e outra vez cá dentro
mas não te encontro...

Chamo por ti...
               ... sedenta do teu licor...
do alimento que me mantém viva e fértil!
Só tu me poderás cortar as algemas de espinhos
que me aprisionam dentro desta gruta infernal!