quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Ser quem sou

Ser quem sou, 
desejar o que tenho,
gostar do que vejo, do perfume da minha flor,
das raízes que a alimentam e da chuva que a hidrata...
... das palavras que me são ditas,
dos cumprimentos banais com que nos tocamos,
desconhecidos mas cúmplices,
porque todos nascemos do corpo de uma mulher,
fecundada pela virilidade de um homem...
Querer guardar as memórias que me escorrem das mãos em pequenos grãos...
Sentir falta do que me define e por vezes se desprende
como um pequeno ramo mais débil caindo de uma árvore frondosa...
Acordar debaixo dessa copa verdejante
e abraçar-me ao lençol macio em que me deito todas as noites...
Já o dia se vestiu de negro, é um tecido opaco mas brilhante...
Por uma luz semicircular desliza até ao meu rosto,
sinto-lhe a mão aveludada enxaguando-me as lágrimas quentes...
Este marejar que me ofusca e tortura 
a cada passo febril que calca a terra turva e fria...
Ouço-te... mas quem?
Se és a voz que me vibra na laringe!
Habitas-me!



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Fluxo contínuo




















Torrente febril que derrete esta colina de neve,
num rastro quente de vapor que flutua,
mantém-me cativa nesta gruta de pedras vulcânicas…
enquanto me aqueces a alma sombria e a pele salgada…

Fui sereia do mar mas quero ser tua,
da nascente translúcida até à foz de cor púrpura...
Serei a ninfa de água doce que cuida do teu leito morno
e semeia cravos e tulipas nas margens fofas que te aconchegam!

És o meu par nesta dança serena que marca o compasso da brisa de leste...
Os teus lábios deslizam pelo contorno já ereto dos mamilos…
... são cerejas na tua boca...
... botões de rosa que te florescem nos dedos…
Temperas-me com a tua saliva agridoce e quente
até mergulhares na lava que brota do meu ventre!