Calco a terra batida que a chuva vai molhando.
Escorrem-me as cores da vida inexistente
como o arco-íris que rasga o céu cinzento,
num êxtase arrepiante e fugaz,
como este sorriso que me atiras no ar…
Tento bebê-lo, provar-lhe o veludo e o calor
da pele quente, nua,
brilhante, húmida.
Caminho descalça, livre…
lama, água fria, vento
e o cabelo esvoaça rebelde em fúria!
Estendo os braços e crescem-me penas largas,
acelero, marcas o compasso…
Fujo… de quê? Para onde?
A que mundo pertenço?
Não me sinto quem sou,
não possuo o que tenho.
Mas para quê ser dono
do que nunca será teu mas de todos?
A luz dissipa-se em farrapos violeta,
nesse manto que me limita o olhar,
feito de manchas azuis que vão escurecendo…
Respiro fundo…
A maresia devolve-me a alma
em espuma branca,
num embalo doce e sereno…
Sem comentários:
Enviar um comentário