Não quero mais ser a paleta vazia de cor, pálida,
nem um mero expositor de tintas em carne viva
à mercê dos tentáculos de um pincel vadio e moribundo,
autor das telas que me pintam os olhos de lágrimas...
Não quero mais ser o projetor de luz de um palco de sombras,
sem pele, suor, vozes e saliva,
pedaço de chão negro abandonado,
coberto com uma fina camada de pó cinza
e com um círculo luminoso ao centro apontado.
Não quero mais ser reclusa da minha teia,
mas antes deslizar nessa rede como uma viúva negra,
desfiando lençóis de água sobre o teu leito queimado pelo sol,
refrescando esse ardor que te consome em lume brando...
Inspiro os ventos glaciares e chamo a neblina das madrugadas
para dar à luz pétalas de gelo,
polidas pela erosão do granizo de Inverno,
filamentos cristalinos que te estancam essa lava,
transformando-a no rio que me corre nas veias...
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