sábado, 25 de fevereiro de 2012

Borboleta



















O perfume ácido da laranja
crava-se-me na pele rugosa...
os maxilares tensos fazem ranger os dentes,
trinco uma semente mais agreste
e o veneno destila-se na língua,
envolvendo-me a saliva e as papilas gustativas!
Lá fora o vento sopra quente,
batendo no vidro fosco que me circunda o rosto...
Ramos despidos, secos,
partem a cada rajada mais forte
e a minha carne estremece
entre os dentes da tua boca...
São brancos, alinhados,
cegam-me os olhos encharcados...
mas Neptuno emerge do mar revolto
e salva-me das tuas mandíbulas de sangue,
libertando-me... sou novamente borboleta e consigo voar!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Lua de fogo sem palavras















Perdi as palavras e as que restam tropeçam-me na língua
onde me crescem silvas e musgo...
Procuro-as no baú secreto das memórias,
mas desmaio nesta lividez
que me sustenta a alma...

Fujo do vento gelado que me desabotoa a blusa,
os mamilos endurecem no arrepio que me sobe pela espinha,
mas por dentro as chamas consomem-me de febre,
asfixiam-me neste suor frio e doentio...

Corro estrada fora como se voasse nesse sopro de Leste
que estremece as águas do rio e os campos de trigo,
toco as chaminés e as nuvens
e lá em cima a lua de fogo que me enlouquece!