sábado, 22 de maio de 2010

Desejos vãos























Boneca encantada by Anna Ignatieva

Eu queria ser o Mar de altivo porte
que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
a pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
o bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a Árvore tosca e densa
que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol, altivo e forte, ao fim de um dia,
tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!

Florbela Espanca

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sweet dreams are made of...



- Fantástica crítica social dos Eurythmics


Vivemos cegos...
as pestanas carregam as cinzas
de lágrimas ardidas
e o fogo vai engolindo verdades,
poluindo a justiça!

Vivemos cegos com os "sonhos"
que nos tingem o pensamento!
São ilusões, mentiras...
que tomamos como anti-depressivos!

Mas o mundo está deprimido...
Vejam!
Basta abrir os olhos
e ver o que está por detrás desses "sonhos"!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Gerânios


Ilustração por Anna Ignatieva

No regaço, guardo um molho de gerânios,
colhidos na berma do pensamento,
entre a estrada de asfalto quente
e o passeio de cimento pálido e vazio.

Vagueio sob o Sol forte do meio-dia…
A luz pesa-me nas pálpebras semi-cerradas
e torra-me a pele nua dos braços.
O vestido escalda-me os seios hirtos,
dança com a brisa quente do deserto
e desliza junto aos pés descalços,
sobre as águas transparentes que te enchem o rio!

Desmaio numa cama de pétalas rubras…
Os teus ramos verdes de folha larga
aconchegam-me na noite escura
e uma coruja de penas claras
anuncia o despertar de um novo dia.

domingo, 2 de maio de 2010

Uivo da Natureza















Fonte: blogue Originais... E não só!

Com os meus braços de fogo,
inflamo a terra moribunda
e os caminhos secos do deserto
que te irrigam o corpo velho.

O azul que te enchia os lagos e os rios
tingiu-se de negro e pó…
São crateras vazias,
buracos onde a tua alma definha.

As águas levantam-se em espuma branca
e sacodem o sal na areia escura,
derrubam as muralhas de cimento
que te aprisionam dentro de uma cintura
de casas e indústria.


O mar uiva junto aos meus pés descalços.
Acaricio-te o rosto poluído,
lembrando-te cristalino e transparente.